terça-feira, 4 de maio de 2010

Saudadexxxx

Vida breve vida

Leidiane Montfort


Quando morrem três pessoas em um acidente de carro isso não significa apenas o acréscimo de três no já inflado número de tragédias das estradas brasileiras. Significa entre outras coisas, que alguém (vivo) perdeu um ente querido: alguém que gostava de macarrão com pimenta e depois reclamava que tava muito ardido, de cantar Alcione tudo errado e Vanessa da Mata (tudo certo), de inventar apelidos pros amigos ou de fazer coisas bestas, bobas ou extremante importantes, todas com a mesma intensidade e paixão. No último fim de semana, uma dessas deliciosas pessoas se foi. Dyolen Emanuel Vieira de Souza, 23 anos, colega do Jornal A Gazeta.

O estagiário, radialista e estudante da jornalismo da UFMT, mestrando no núcleo de Estudos de Cultura Contemporânea (ECCO) da mesma instituição e meu amigo (que fique claro), era tão, tão sensível e inteligente não merecia suportar por muito tempo esse mundão besta aqui não. Os bons morrem cedo, disse Renato Russo. E o mais surpreendente é que não era desses "sabidos" pedantes. Nada disso. Era capaz de gostar do filme mais noir ou nonsense, dos escritores mais densos e, ao mesmo tempo, defender com galhardia os primeiros anos do É o Tchan, grupo que influenciou nossa infância. (Desculpe aí, se alguém se sentiu ofendido).

E a risada? Um dia peguei um ônibus bem, bem lotado mesmo. Tava lá no fundo sentada e ouvi um "projeto de gargalhada" vindo da parte da frente, sabia que era a dele. Sabia mesmo. E era. Quem conheceu a figura em questão sabe do que estou falando, a risada com folêgo entrecortado. E ainda tinha gente que achava que ele tinha cara de sério. Onde? Você, caro leitor, devia ter visto a cara dele quando descobriu que Alcione cantava "me leva na manha e ba-bau, leva meu coração", ele jurava que os versos eram "me leva mamãe e papai, leva meu coração". Hi-lá-rio. Quem nunca cantou um verso de música errado?

Sabe a novela Caminho das Índias? Então, o Dyolen a classificava como "divertida" e "instrutiva" e por isso usava alguns palavreados apresentados na trama como Kajerare, Are Banguandi, etc. Isso tudo apesar de ter feito sérias ressalvas à cena em que Raj oferece uma rosa para Maya comer. "Gente, pelo amor de Deus, uma rosa? Rosa? Ah, não! Isso é muita humilhação pro artista!", desabafava como se tivesse discutindo política internacional ou o conflito de terras na Amazônia.


Dyolen era leitor compulsivo de autores de cibercultura e dos clássicos Machado de Assis, Ariano Suassuna, Manoel de Barros, Gustave Flaubert, entre tantos em uma lista infindável de referências. Participava da comunidade no orkut intitulada Jovens Idosos (é, ele era muito responsável apesar da pouca idade). Era fã de Vanessa da Mata, Marina Colassanti, da professora Lucia Helena Vendrúsculo Possari (L.H que sempre estava na jugular dele, e ele amava), Yuji Gushiken (queria ser ele quando crescesse), do irmão adolescente Manoel Junior (só reclamava dele ser mais alto e com voz mais grave que a dele, o que seria constrangedor para um irmão mais velho), e da cabeleireira Dimerci, mais conhecida como Morena, sua mãe, a quem desejava muito que sentisse muito orgulho de sua trajetória. Certamente ele tem.

Doug Funnie, apelido de infância, mostrou seu talento por alguns meses no Jornal A Gazeta com textos que mostravam a sua criatividade e bagagem cultural, sempre em constante aprimoramento. No momento, ele estava feliz da vida (se bem que, nunca o vi reclamando da mesma), tinha acabado de conquistar o primeiro lugar no Prêmio de Jornalismo Universitário promovido pela Escola Superior do Ministério Público da União. Além disso, ele contou empolgado que estava fazendo autoescola e em fase de término do curso de mestrado. Tinha outros planos? Muitos! Morar no Rio de Janeiro, em Porto Alegre, passar um tempo na Bahia, depois ir pra Londres e onde mais ele pudesse se matricular em trocentos cursos diferentes. Êeee Dyolen. Hoje o mundo inteiro, e o céu também, lhe pertencem de algum modo. E nós seus amigos também.


Namastê, Dougdy!Te amamos.

Sua Leidislândia






Tragédia - Dyolen morreu num trágico acidente no município de Bandeirantes, na BR-163, a 80 km de Campo Grande (MS), na manhã de sábado (01), que também tirou a vida da amiga dele Helen Caroline Bastos da Costa (Carol) e do namorado da jovem, Jony da Costa Silva, 22, que conduzia o veículo. Os pais de Carol, Marcos Antônio Bastos e Ramona Moraes da Silva Costa, sobreviveram. Eles iam a Campo Grande (MS) para visitar uma amiga que se mudou para o estado vizinho a aproximadamente 1 mês.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Vanguart abre show dos ingleses do Coldplay



Banda mato-grossense entra em estúdio para gravar segundo álbum que deve ser lançado até julho com influências da bossa nova como Jobim e Debussy



"Não se conquista a fama deitado sobre leves plumas", a frase é de Dante Alighieri e aponta como a relação de sucesso e trabalho é fundamental. Com cinco anos de estrada e batalhas por um espaço ao sol a banda mato-grossense Vanguart ampliou o cenário do pop de qualidade no Brasil. Isso vindo de uma região que ainda enfrenta preconceitos por não contar com a estrutura de outros centros culturais do país. Na última semana eles foram surpreendidos com a notícia de que fariam os shows de abertura da banda inglesa Coldplay no Brasil. O quinteto conseguiu com muita qualidade, criatividade e bom gosto se firmar no cenário underground do pop rock e assinar com uma importante gravadora. Em entrevista exclusiva ao Vida, o vocalista Hélio Flanders fala sobre a experiência de tocar para uma multidão, o novo CD previsto para ser lançado em julho e a saudade de Mato Grosso.



O ponto de partida da turnê "Viva La Vida World Tour" da banda britânica Coldplay em solo brasileiro será com músicas do Vanguart. Segundo a organização dos shows, foram mais de 159 apresentações com cerca de 2,75 milhões de pessoas em 25 países. Por esse motivo, a informação de o Vanguart abriria os shows no Brasil, publicada nesta terça-feira (5/1) no site oficial da banda inglesa, pegou muita gente de surpresa. Ansioso para tocar para o maior público da carreira, estimado em mais de 50 mil pessoas por apresentação, Hélio Flanders conta como aconteceu o convite. "Acho que o Coldplay hoje é um dos poucos exemplos do que podemos chamar de megabanda, ou banda de estádio mesmo. Quase no nível de Madonna, U2 etc. A escolha da banda de abertura foi feita pelo próprio Coldplay, apenas recebemos o convite. Acredito que por sermos da mesma gravadora (Universal Music) os ingleses tiveram conhecimento de nós".


No Brasil a banda britânica toca na Praça da Apoteose, no Rio de Janeiro, dia 28 de fevereiro, e no Estádio do Morumbi, em São Paulo, dia 02 de março. É comum músicos dizerem que aumenta a ansiedade ao fazer shows de abertura, especialmente, em razão de que a maioria do público presente pagou para ver outra banda tocar. Com o Vanguart não é diferente. "Sim, é sempre um pouco arriscado e não há como não ficar um pouco ansioso quando se vai tocar para 50 mil pessoas, mas ao mesmo tempo em 5 anos de estrada temos certa experiência em driblar o nervosismo. Se concentrar, se preparar bem tanto fisicamente como a questão musical em ensaios faz a diferença. É fundamental subir ao palco se sentindo seguro em shows pra tanta gente".


O fato de ter a estrutura de uma gravadora na hora de planejar e divulgar o trabalho fez com que algumas coisas mudassem na dinâmica do trabalho da Vanguart. "Continuamos vendo a arte da mesma maneira, sempre tentando caminhos sinuosos do que os mais óbvios e não tentando se adequar ao mercado, mas ao mesmo tempo estar com uma gravadora te obriga a não levar sua carreira sem planejamento, o que é muito bom. Acho que hoje temos um modelo de como trabalhar, e isso veio com os anos de estrada".


Álbum no forno- No novo disco o Vanguart vai flertar com sons que no primeiro trabalho eram influências mais tímidas como é o caso da bossa nova. Mas sem perder a identidade do Folk Rock. "Usamos algumas idéias harmônicas que são inspiradas em Jobim e em Debussy, mas com a nossa pegada, então vai ser algo diferente. As canções estão menos pop, eu diria, algumas com refrão, mas nada óbvio". A previsão de lançamento do CD é de no máximo até julho. "Entramos em estúdio agora no fim de janeiro. Enquanto isso seguiremos com os shows".



A identidade da banda é diretamente ligada à Mato Grosso, a mídia nacional os rotula de "os cuiabanos" da Vanguart, por isso é inevitável questionar sobre como anda a relação deles com a banda de cá. Para o vocalista Hélio Flanders a saudade é grande. "Estou completamente desesperado para tocar novamente em Cuyaba [assim mesmo com ‘y’ como prefere Hélio]. O ano de 2009 foi de muita correria e não tivemos bons convites para ir tocar aí, mas esperamos que antes de março possamos voltar a nossa terra natal para matar a saudade dos amigos e do público matogrossense".



O som do Vanguart- As influências da banda surgida em Cuiabá em 2003 são de maioria do folk rock, do blues e rock clássico, como Bob Dylan, The Beatles, Neil Young, Johnny Cash, The Velvet Underground e The Beach Boys. É formada por Hélio Flanders, Reginaldo Lincoln, David Dafré, Douglas Godoy e Luiz Lazzaroto, o nome da banda foi retirado de um vídeo que falava sobre o pintor de Pop Art Andy Warhol. Em 2005 com sua sonoridade já definida, o grupo começou a participar de festivais de música independentes, como o Festival Calango.



No ano seguinte, a banda lançou o single Semáforo que virou sucesso no mercado da música independente no Brasil. No fim de 2006, os vangsentraram em estúdio para gravar o primeiro álbum que levou o nome de Vanguart, que foi lançado em julho de 2007, pela selo Outracoisa do cantor Lobão. Em novembro de 2008 fecharam contrato com a Universal Music, gravadora em que lançaram em 2009 o CD e DVD registro Multishow. As expectativas crescem para o segundo álbum, que está planejado para ser lançado no início do segundo semestre do ano.


terça-feira, 7 de julho de 2009

Quintana por Quintana

Dos nossos males
"A nós bastem nossos próprios ais,
Que a ninguém sua cruz é pequenina.
Por pior que seja a situação da China,
Os nossos calos doem muito mais..."
***
Poeminha do contra
"Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!"
***
Simultaneidade
- Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me matar! Eu quero viver!
- Você é louco?
- Não, sou poeta.

Quintaneamente

15 anos
Quintana, o poeta das coisas simples
Leidiane Montfort Da Redação A Gazeta

Já nem penso mais em ti. Mas será que nunca deixo de lembrar que te esqueci? O poema do gaúcho de Alegrete, Mário Quintana fala da dificuldade de esquecer alguém especial. Nada mais oportuno para a data de hoje. Há exatos quinze anos morria o inesquecível poeta das coisas simples. No entanto sua obra permanece imortal e fecunda a cada dia, a ponto de aumentar a admiração e respeito pelo trabalho belo e único do escritor.

Lembrar a morte de Quintana pode ser teimosia, uma vez que o próprio autor desprezava a morte. Para ele morrer era uma espécie de libertação total. "A morte é quando a gente pode, afinal, estar deitado de sapatos". Com um estilo marcado pela ironia, pelo cuidado com a forma e estrutura física dos poemas e pela criatividade quase infantil Mário conquistou e ainda conquista admiradores por sua qualidade e talento únicos.

Filho de um farmacêutico e uma dona-de-casa, Mário Quintana aprendeu a ler com os pais aos sete anos, no lugar da cartilha ele foi alfabetizado lendo o jornal Correio do Povo. O escritor que além da ironia ficou conhecido pelo estilo perseguidor da profundidade e perfeição técnica, trabalhou como jornalista quase que a sua vida toda.

Foi ainda tradutor dos mais respeitados da literatura brasileira, foi o responsável por traduzir mais de 130 obras universais, entre elas clássicos como Em busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust, Mrs. Dalloway de Virginia Woolf, e Palavras e Sangue, de Giovanni Papini.

Em 1940 ele lançou o seu primeiro livro de poesias com o título de A Rua dos Cataventos, iniciando a sua carreira de poeta, escritor e autor infantil. Depois veio Canções (1946), Sapato Florido (1948), O Batalhão de Letras (1948), O Aprendiz de Feiticeiro (1950), Espelho Mágico (1951), Inéditos e Esparsos (1953), Antologia Poética (1966), Pé de Pilão (1968) - literatura infanto-juvenil, Caderno H (1973) e muitos outros, totalizando 36 obras em português fora as traduções feitas por ele e as traduções de suas obras no exterior.

Em 1966 foi publicada a sua Antologia poética, com 60 poemas inéditos, organizada por Rubem Braga e Paulo Mendes Campos, e lançada para comemorar seus 60 anos, sendo por esta razão o poeta saudado na Academia Brasileira de Letras por Augusto Meyer e Manuel Bandeira. No mesmo ano Quintana ganhou o Prêmio Fernando Chinaglia da União Brasileira de Escritores de melhor livro do ano. Em 1980 recebeu o prêmio Machado de Assis, da ABL, pelo conjunto da obra.

Briga com a Academia- O poeta tentou por três vezes uma vaga na Academia Brasileira de Letras, mas em nenhuma das ocasiões foi escolhido. As razões eleitorais da instituição não lhe permitiram alcançar os vinte votos necessários para ter direito a uma cadeira. Quando então foi convidado a se candidatar pela quarta vez, com a promessa de unanimidade em torno de seu nome, o poeta recusou e explicou os motivos. "Só atrapalha a criatividade. O camarada lá vive sob pressões para dar voto, discurso para celebridades. É pena que a casa fundada por Machado de Assis esteja hoje tão politizada. Só dá ministro", criticou Quintana.

O poeta - Quando foi solicitado que falasse sobre si escreveu em uma carta o seguinte. "Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Ah! mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas. Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a Eternidade.

Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso! sou é caladão, introspectivo. Não sei por que sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros?".

Homens que amam demais

Homens também sofrem por amar demais

Ao contrário do que se acredita, amar excessivamente o outro não é comportamento inerente ao universo feminino


Existe dose certa para amar? Aparentemente sim. Pelo menos uma proporção considerada saudável de afeto para se ter por outra pessoa. Historicamente, o fato de alguém amar excessivamente outra pessoa costuma ser vinculado quase que exclusivamente ao universo feminino. No entanto, os homens também sentem, sofrem e choram por amar demais . O amor não é uma característica de gênero, dizem os especialistas em comportamento. Eles, como qualquer pessoa, possuem a capacidade de se entregar ao amor e quando decidem fazê-lo estão propícios aos sofrimentos que esse sentimento tão arrebatador pode causar.

Apesar da forma de sentir o amor ser semelhante entre os gêneros o que diferencia é a forma de manifestá-lo perante o mundo. Eles disfarçam melhor do que as mulheres e costumam simular virilidade, rigidez e força por causa da educação que tiveram desde a infância. Enquanto as mulheres sofrem, a sociedade tolera e entende essa manifestação da tristeza como algo normal, já com os homens o que acontece é um desespero perante a rejeição social. Por isso, a maioria sofre em silêncio, porque foi treinada para sere prática e racional desde pequeno, enquanto as mulheres são educadas para projetar a felicidade no parceiro.

"O homem sofre muito, mas foi treinado a não demonstrar. A dor é muito grande. Em alguns casos é até maior que naquelas mulheres consideradas mais melosas. O homem vai à sarjeta e não tem apoio dos outros homens, ao contrário das mulheres. Eles escondem o sentimento e é comum desenvolverem gastrite e sofrerm mais infartos e acidente vascular cerebral, (AVC). Eles também precisam desse conforto, mas não têm. A traição, por exemplo, para homem é completamente destrutiva, o prejuízo emocional é muito maior que para uma mulher", explica a psicóloga e terapeuta sexual, Rosana Shneider.

O novo papel das mulheres na sociedade com maior independência financeira e psicológica fez com que os homens se sentissem inseguros. "Eles ligam segurança ao controle financeiro e muitas mulheres recebem mais que os companheiros. De outro lado, a diferença é que hoje eles se permitem mostrar mais os sentimentos. Antes se exigia deles uma postura sexual e rígida, hoje espera-se mais emoção e amor".

A reprise da novela "Mulheres Apaixonadas", inicialmente exibida em 2003 trouxe à tona discussões como o ciúme excessivo pode ser encarado como um indicador que algo vai mal. Na trama a personagem Heloísa, vivida pela atriz Giulia Gam projeta sua felicidade exclusivamente no marido e apresenta crises constantes e incontroláveis de ciúme. "As pessoas aprendem que a felicidade está projetada no outro e não está nisso. A felicidade está dentro de você. Essa é uma falha da nossa sociedade e que causa grandes problemas aos relacionamentos" .

Mada- com a novela, o grupo Mulheres que Amam Demais Anônimas (Mada) foi amplamente divulgado em todo o país. Baseado no livro Mulheres que Amam Demais, de 1985, da autora Robin Norwood, o Mada funciona como um apoio para aquelas mulheres que sofrem por amor. "A dependência emocional é um transtorno que se caracteriza pelo medo que sentimos da liberdade e tem como característica comportamentos submissos, falta de autoconfiança, indecisão, dificuldade de dar limites e também por um temor exagerado do abandono, da solidão; logo, medo da separação", afirma Norwood.

De acordo com a definição do site do grupo ,o Mada é "um programa de recuperação para mulheres que têm como objetivo primordial se recuperar da dependência de relacionamentos destrutivos, aprendendo a se relacionar de forma saudável consigo mesma e com os outros". O grupo Mada cresceu e, atualmente temos 40 reuniões semanais no Brasil distribuídas em 11 Estados (incluisve em Mato Grosso) e o Distrito Federal.
Ariano Suassuna: O escritor da esperança
Homem das letras e dos verbos, o paraibano Suassuna completa hoje 82 anos

Completa 82 anos de vida hoje o talentoso teatrólogo, romancista e escritor paraibano Ariano Suassuna, um dos mais fortes expoentes da literatura erudita e popular brasileira que junto com outros nomes de sociólogos, estudiosos de literatura e historiadores como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Antônio Cândido nutre o desejo latente de "explicar o Brasil" por meio de suas obras. "Arte pra mim não é produto de mercado. Podem me chamar de romântico. Arte pra mim é missão, vocação e festa".

O esforço em gerar um sentido de brasilidade faz com que Suassuna finque sua pena no serviço de mostrar a árdua vida de grande parte dos nordestinos desse país. Em suas obras há sempre uma forte carga de crítica social à realidade dos mais pobres, que apesar de sua situação fragilizada são apresentados como fortes, criativos e otimistas.

Ariano Suassuna nasceu em Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa, na Paraíba no ano de 1927. Com apenas três anos de idade perdeu o pai, que governava o Estado, vítima de assassinato no Rio de Janeiro às vésperas da Revolução de 30. Ainda em Taperoá, a família de Ariano soube da morte que ocorreu dentro da cadeia de eventos ligados à morte de João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, e por essa razão sua família precisou fazer várias peregrinações para diferentes cidades, para escapar de represálias dos opositores ao seu pai.

Esse nomadismo forçado fez com que nele se enraizasse o sentimento de "Brasil nordestino". A infância passada no sertão familiarizou o dramaturgo com os temas com o seu "mundo mítico". Não apenas as estórias e casos narrados e cantados em prosa e verso foram aproveitados mas também as próprias formas da narrativa oral e da poesia sertaneja foram assimiladas. Assim criou o Movimento Armorial que visava criar um arte erudita a partir de elementos da cultura popular.

As obras de Ariano Suassuna já foram traduzidas para inglês, francês, espanhol, alemão, holandês, italiano e polonês. Desde 1990 ele ocupa a cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras, cujo patrono é Manuel José de Araújo Porto Alegre, o barão de Santo Ângelo. Em 2002, Ariano Suassuna foi tema de enredo do Império Serrano, no carnaval carioca e em 2008 foi novamente escolhido para essa função, mas pela escola de samba Mancha Verde no carnaval paulista.

Em 2007, às vésperas de completar 80 anos, Suassuna declarou em uma das inúmeras entrevistas ao ser questinado sobre a morte. "Eu digo sempre que tenho duas armas para lutar contra o desespero, a tristeza e até a morte: o riso a cavalo e o galope do sonho. É com isso que enfrento essa dura e fascinante tarefa de viver".

Auto da Compadecida- De todas as obras do escritor a que lhe rendeu maior repercussão é sem dúvida, Auto da Compadecida, uma peça de de teatro em forma de auto, em três atos escrita e em 1955. Trata-se de uma comédia do Nordeste do Brasil que insere elementos da tradição da literatura de cordel, demonstra traços do catolicismo, une cultura popular e erudita com a tradição religiosa. O texto teatral que posteriormente foi adaptado para o cinema em uma produção de Guel Arraes aborda assuntos de natureza universal como a avareza e suas duras conseqüências, além do jeitinho brasileiro"para resolver os problemas.

A imagem do povo nordestino é forte na obra do autor, mas precisa ser vista com cautela e criticidade na visão do professor com doutorado em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e um dos fundadores dos cursos de mestrado em Estudos de Linguagem da UFMT e também do mestrado em Estudos de Cultura Contemporânea (Ecco) da mesma instituição, Mário Cezar Silva Leite.

"O personagem João Grilo, por exemplo, é uma figura típica da literatura de cordel, chamada Amarelinha, que sobrevive de malandragens. Embora existam pessoas que se encaixem nesse perfil, é importante dizer que pensar o povo nordestino sob este aspecto é generalizar demasiadamente. Este é um recorte estereotipado que busca o apelo popular por meio do humor. Mas nem por isso tira o mérito do escritor".

O professor aponta que os textos de Ariano são, na maioria das vezes, resultados de fórmulas e modelos prédefinidos que se mostraram sucesso anteriormente. O estudioso ressalta a relevância de Ariano para a literatura brasileira, principalmente em relação à dramaturgia. "Suassuna é um escritor de grande importância, de forte qualidade erudita e popular que tem um repertório comum com o mundo da literatura de cordel (dicotomia Deus x Diabo) em conjunto com diálogos com releitura de clássicos universais. Ariano escreve de uma forma que poucos conseguem, além de ter uma postura ideológica bem definida no viés da cultura popular. Isso tudo faz dele um teatrólogo diferenciado dos demais".

Ariano Suassuna precisa ser redescoberto nos livros, defende o professor. "Ele é muito conhecido pelas adaptações de suas obras, nem tanto pela leitura. Claro que as adaptações são muito boas porque divulgam a produção da literatura de boa qualidade e o autor, mas as discussões sobre os textos do escritor ainda são poucas e seria interessante que se multiplicassem nas escolas e universidades".

Matéria A Gazeta Nara

Bossa Nova

20 anos sem Nara Leão

Dona de uma voz suave e discreta, nadou contra maré, comprou briga com militares e se engajou na luta por justiça social

A voz feminina da bossa nova cessava seu canto a exatos vinte anos. Foi no dia 07 de junho de 1989 que morria aos 47 anos a talentosa Nara Leão. Sua morte criou um espectro em que se iniciaram movimentos para entender a relevância artística e política de uma intérprete tão popular de opiniões fortes e polêmicas que constatavam com a aparência frágil e romântica.
"Os militares podem entender de canhão e metralhadora, mas não pescam nada de política". Foi com essa frase dita no conturbado show Opinião que Nara Leão alcançou o sucesso e a popularidade no mundo da música. Ela foi, talvez, a primeira cantora a incorporar ao seu canto, um repertório de convocação política à resistência democrática recém iniciada no Brasil, alguns meses depois do golpe.
Nara estreou profissionalmente no musical de Vinícius de Morais e Carlos Lyra, intitulado Pobre Menina Rica. Mas em 1964 Nara surpreendeu o mundo artístico brasileiro com seu primeiro disco, em que resgatou o samba de morro e ainda lançou e relançou sambistas de raiz, como os incríveis Cartola, Nelson Cavaquinho, a velha guarda da Portela, entre outros. Ao contrário do que sua figura romântica poderia passar, ela não exaltava o amor, flores ou sorrisos. As canções presentes no disco eram engajadas com temáticas da realidade brasileira daquele período. "Cada disco dela era uma surpresa para todo mundo", opina o pesquisador da vida da cantora, Sérgio Cabral, que escreveu uma biografia sobre ela.
"Este disco nasceu de uma descoberta importante para mim: a de que a canção popular pode dar às pessoas algo mais que a distração e o deleite. A canção popular pode ajudá-las a compreender melhor o mundo onde vivem e a se identificarem num nível mais alto de compreensão", afirmou a cantora.
Todos esses esforços fizeram de Nara Leão a primeira cantora branca da chamada zona sul do Rio de Janeiro a valorizar e resgatar sambistas esquecidos. Por isso quando gravou o primeiro disco, o pessoal da bossa nova a acusou de trair o movimento que havia se fortalecido nas reuniões feitas no apartamento da casa dela. Nara não se contentava apenas com a Bossa, queria ir adiante, cantar músicas de várias origens, sem o repeteco da bossa nova, mas usando elementos dela.
A bossa era uma música com características muito específicas da zona sul do Rio, mas a música de Nara trazia o Nordeste, o samba do subúrbio carioca, outros ares. Assim acabaram sendo depois Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil.Nascia ali, com Nara e a sigla MPB, a era da canção de protesto.
Bela e forte- Nara carregou por anos o rótulo de musa da bossa nova. O biógrafo Cabral acredita que num primeiro momento a cantora não passasse de um mascote do movimento. Foi quando, ainda adolescente, passou a reunir em seu apartamento a nata daquela geração, Roberto Menescal, Carlos Lyra, Sérgio Mendes e Ronaldo Bôscoli, entre outros, em torno de longas noites de voz, violão e bossa. "No começo o pessoal não acreditava muito nela, e ela própria tinha dúvidas sobre isso", aponta o escritor.
Seis anos após a explosão da bossa nova, Nara rompeu com o movimento, chegando a inclusive se posicionar contra ele. Em 1966, interpretou a canção A Banda, de Chico Buarque no Festival de Música Popular Brasileira (TV Record), que ganhou o festival e público brasileiro. Nara também aderiu ao movimento tropicalista, tendo participado do disco-manifesto do movimento - Tropicália ou Panis et Circensis, lançado em 1968.
"O fato de apoiar todos os movimentos, desde que fossem bons, fez com que eu reunisse o maior repertório do Brasil. As pessoas podem ter discutido se eu canto ou não canto, se gostam ou não gostam, mas têm que admitir que a minha falta de preconceito em relação aos movimentos fez com que eu gravasse coisas antigas, novas e de vanguarda", disse Nara certa vez.
A dona de voz suave e discreta mas que fez mais barulho do que todos os outros integrantes da bossa nova, ao se aproximar do samba, nadou contra a maré e se engajou na luta por justiça social, tendo como principal arma, a música. Depois do golpe militar, Nara troca farpas com os militares, chegando quase a ser enquadrada na lei de segurança Nacional. Porque quando o assunto era oposição, não se tratava de eufemismos. Um dos ápices da biografia de Nara Leão veio quando em uma entrevista ela defendeu a saída dos militares do poder e para colocar mais pólvora na fogueira pediu a extinção das Forças Armadas no Brasil. T
Tamanhos feitos renderam uma séria ameaça de prisão à cantora. Ela foi perseguida a ponto de fazer com que dezenas de intelectuais brasileiros fossem em procissão para sua casa, lhe prestar apoio. O poeta Carlos Drummond de Andrade foi ainda mais longe. Ele escreveu uma carta em forma de poema endereçado ao presidente, o Marechal Castelo Branco. (ver box)
Nara Leão morreu na manhã de 7 de junho de 1989 vítima de um tumor inoperável aos 47 anos de idade. Seu último disco foi My foolish heart em que interpretava versões de clássicos americanos. O poeta Ferreira Gullar escreveu: "Sua voz quando ela canta, me lembra um pássaro mas não um pássaro cantando: lembra um pássaro voando".